Decisões muito pensadas. Planos raciocinados ao extremo. Para que nada seja inesperado. Como se um passo em falso nos faz cair num precipício sem volta.
O conforto do premeditado. Contempla-se um infinito número de futuros no presente e o presente acaba por se desvanecer nos futuros. A surpresa nunca vem porque foi sempre questionada.
E quando chegamos a uma meta sem termos feito mais planos? E as coisas começam a acontecer sem avisar, sem termos premeditado?
Subitamente estamos sem chão. O melhor é que aprendemos a voar. E podemos descobrir um céu que nunca pensáramos que existisse.
Há uma altura na vida em que se passa a procurar coisas diferentes nas pessoas que nos rodeiam, naquelas que vamos conhecemos.
Quando se procura alguém que nos faça feliz para sempre os requisitos também vão mudando. A paixão extrema aquando do primeiro vislumbre é coisa de adolescentes? Quando crescemos damos mais valor ao que se vai construindo? A aparência deixa de ser essencial e começa-se a pensar em estabilidade? Resumindo, ao ficarmos mais velhos ficamos mais racionais e somos mais (ou menos) exigentes naquilo que queremos que alguém nos acompanhe?
Os padrões mudam, nós mudamos, os outros mudam. Apercebi-me que agora procuro algo que não me passava pela cabeça há uns tempos atrás. Ou antes, já não procuro aquilo que procurava há uns tempos atrás. Estarei a resignar-me ou simplesmente acordei do conto de fadas onde o meu príncipe pode ter caído do cavalo branco ou simplesmente nunca ter ocorrido a transformação do sapo?
Queremos parecer de uma certa forma. Agradáveis, bonitos, simpáticos, afáveis. Outras vezes fazemos questão de parecer exactamente o oposto. Porque nos dá mais jeito que determinada pessoa nos ache antipáticos, convencidos, macambúzios.
Outras vezes só “mostramos” metade daquilo que somos. Simplesmente porque achamos que determinada pessoa só gosta (gostará) de nós com as nossas (potenciais) virtudes. É preciso coragem para nos “despirmos” e sermos nós próprios, com todos os nossos defeitos ou lados lunares.
Muitas vezes escondemo-nos em falsas falhas ou intuições.
Mas muitas vezes somos genuínos, pelo menos naquele momento. E quem nos conhece, convive com connosco, sabe que o estamos a ser. Não nos julga, não nos trata de forma diferente porque acha que mudamos, não nos fala da mesma maneira porque na cabeça deles estamos diferente.
Houve uma altura em que me apercebi que havia pessoas que eu gostava muito que acabavam por desaparecer da minha vida. Sumiam-se devido a um ponto de viragem nas vidas delas que tiveram que se distanciar espacialmente, emocionalmente.
Apercebi-me que se não me tornasse tão próxima de pessoas que me pudessem dizer adeus e nunca mais olá tudo seria mais fácil e o duro sofrimento não me tornaria a visitar.
Distanciei-me, tornei-me menos eu e simplesmente uma pessoa com quem podiam falar mas não mostrava muita intimidade. Quando era a minha vez não continuava com o meu lado pessoal e dizia o que qualquer pessoa e senso comum acreditavam. Acho que me tornei mais fria.
Mas a amargura não desapareceu. Em vez do sentimento de perda de alguém sentia que me estava a perder a mim. Não era aquela pessoa sorridente que as pessoas conheciam.
O distanciamento só me veio provar que independentemente de as pessoas terem que deixar de fazer parte da minha vida eu continuava a gostar e lembrar-me delas, mesmo sem falarmos, mesmo só pelas óptimas recordações.
Arrisquei mais e deixei-me soltar. Sem medos, sem preocupações. E agora deixo-me levar. Independentemente do que possa acontecer um dia porque há momentos que valem a pena por si só, sem pensar no futuro. Mas também há momentos que por mais que tenhamos gostado de alguém a temos que a deixar ir. Porque sabemos que o que virá somente irá desvanecer o bom que foi. Faz sentido que assim seja.
Quero que as pessoas que façam parte da minha vida o façam eternamente. Se houver uma vida futura quero que elas permaneçam. Mas, às vezes, há pessoas que tanto surgem como desaparecem num suspiro e nos deixam sem fôlego para todo o sempre. Estas também permanecerão connosco indelevelmente.