quinta-feira, 11 de junho de 2015

Pudor



Nos últimos tempos apercebi-me de certas coisas que só contava acontecer nas telenovelas.

Tarde.

Traições dissimuladas em casais que consentem. Normalidade para a maioria. Desconfiança certeira. Traição subentendida.

Sou antiquada ao ponto de achar que confiança e monogamia são essenciais numa relação séria.

Mas sempre pensei que a única forma de pensar numa relação seria essa séria. Agora dou por mim a pensar que há relações que podem não ser sérias. 

Não me fazia sentido estar com uma pessoa só porque sim. A pensar noutra, noutras. Estando com elas.

Parece que há muita gente que acha que sim e acha perfeitamente possível. Chama-se modernidade em tempos em que a poligamia é antiga.

A questão também existe para quem, livre, sabe da posição do outro, parte integrante de um casal assumido. Cúmplice. 

Alinhar nessa modernidade é destruir o valor associado ao vínculo que uma relação exige ou simplesmente sucumbir ao momento, ao viver intensamente sem olhar a repercussões?


quarta-feira, 10 de junho de 2015

Pródiga



Faz um ano que desapareci.

Não propositadamente.

Voltei a casa. Trabalho como nunca trabalhei. Muito! 

Não foi fácil a mudança, apesar de muito ansiada. As coisas nunca parecem o que são.

Já melhorei, já me habituei. Estou bem, estou feliz.

A única desculpa para não voltar é o tempo. Tempo que nunca tenho para mim, para os outros. 

Hoje senti necessidade de voltar. Um feriado de folga. Um dia que o M. se lembrou de mim e nem me fez diferença, o coração não palpitou.

Um dia que voltei a reler tanto dos últimos tempos de escrita e senti que já não sei escrever assim.

A única sensação é a que tenho que voltar porque sinto que o último ano foi vazio de palavras, de partilhas. 

Mesmo que após o cansaço diário as teclas do computador sejam demasiado pesadas e as imagens desconhecidas.

Não é nenhuma promessa. É uma expetativa.