sábado, 11 de dezembro de 2010

Testes



Há coisas que nunca pensamos dizer. Particularmente porque nos custaram passar por elas e pensamos que não as queremos repetir. Mas pode ser mentira.
Hoje tive saudades de fazer exames da faculdade.
Da sensação, da adrenalina.
Da espera esmagadoramente ansiosa que me fazia respirar por uma narina (a esquerda), segundo a técnica de ioga, para relaxar.
Da caneta irrequieta que procura a melhor posição entre os dedos contidos e rígidos.
Sempre gostei de olhar em volta nestas alturas. Parava imensas vezes, tirava os olhos do papel que iria decidir imenso, e ficava a ver os outros, as suas atitudes. Os que cabulavam descaradamente, os “marrões” que não levantavam a cabeça durante o tempo todo, os meus amigos em quem tentava perceber o que sentiam e revivia frases durante o estudo em conjunto… Dava para sentir o nervosismo a transpirar por todos os poros e a transpor as paredes bege daqueles anfiteatros.
Muitas vezes fui apanhada. Pelos professores, que também não escapavam às minhas tentativas de leitura de pensamento. Alguns sorriam, outros exerciam o seu pseudo-poder académico de supervisores. Tinha medo que achassem que estava a tentar copiar e me anulassem a prova. Muitas vezes baixei os olhos e continuei a visualizar em redor. Muitas vezes pensei que era parva por não me concentrar no que era realmente importante naquela hora e que ter que repetir o suplício do estudo era pura estupidez.
Da incerteza entre duas opções na escolha múltipla. E naqueles testes em que na dúvida pode-se colocar várias opções nunca me correram bem.
Da certeza absoluta de questões repetidas em exames top secret.
Da ira aquando das interrupções da funcionária que entrava na sala sempre que lhe apetecia e nos olhava com desdém e superioridade.
Da impotência e necessidade de rasgar aquelas estúpidas tentativas de avaliação quando algum(a) professora com a extrema mania que é perfeita nos diz “Ah não está no programa deste semestre?! Mas está no do passado, vocês têm que saber isso, sempre!”. Do olhar em volta e perguntar: “Boicote?”.
De ser a primeira a acabar com a sensação: “tá” feito! Para o bem ou para o mal!
 De entregar enquanto os olhares de (quase) todos se levantam ao mesmo tempo. E o professor perguntar o tão simpático “correu bem?”, pergunta mais complexa de todas daquele dia. Sorriso e o famoso “mais ou menos. Há algumas que levantam dúvida”, novo sorriso a esticar para o amarelo. O “Não se esqueça de assinar a folha de presenças” nunca faltava antes de sair e a porta fechar atrás de mim com um estilhaço que arrepiava os anjinhos.
A primeira oral, surreal. E era a única a fazê-la. Eu e dois professores numa salinha sem janelas. Descrição dos avaliadores: simplificando, o bom e o mau. Um que fazia perguntas pertinentes, outro que basicamente tentava que eu reprovasse. Ao fim de mais de uma hora o bom fez-me a pergunta mais importante de todas: “basta-te o 10?”. Desta eu tinha toda a certeza, não haviam dúvidas nem rasteiras. “Siiiim!!!” “Então está feito que eu tenho que ir fumar.” O mau não achou piada e ainda fez algum suspense sobre a nota final que só ia ser afixada duas horas depois. Claro que esperei sempre duvidosa porque afinal o mal, muitas vezes, prevalece.
Agora que passaram, foram bons tempos. Estou sempre a dizer que só damos valor às coisas quando elas desaparecem da nossa vida. É verdade.

3 comentários:

  1. Ai rapariga... quase que me deste vontade de voltar pra lá outra vez, irra! Mas adorei as descrições do post Lol

    Já agora, espero que não faças exames tão cedo porque a técnica é a inversa: tapas a narina esqueda e respiras pela direita!

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  2. Bem me parecia que não dava grande resultado :D

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  3. Xuxu!!

    Lamneto dizer mas nao tenho saudades nenhumas disto.... o que é mau removemos da nossa memoria facilmente:P

    Beijinhoooos*Tenho saudades:(

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