Quando se espera um telefonema importante e se tem sempre o telemóvel debaixo de vista, se está sempre a verificar que tem bateria e está com som, é quando se recebe mais contactos enganosos.
“É o Bernardo?” Reviro os olhos e com a minha voz rouca respondo o óbvio.
“Tou sim, posso falar com o Cristóvão?” Não pode porque é engano. “Então deixe-me confirmar o número por favor”. Tive que ouvir o senhor a repetir os meus dígitos.
Enervada pego no telefone e ligo para marcar viagem. Ao contrário do habitual a “menina” não é muito simpática e descubro que a ligação é gravada, caso contrário terei que me dirigir às instalações ou fazer pela internet algo que já me avisaram que não posso. Pronto, a minha voz de bagaço deve ficar bem sexy gravada. E se é para contribuir para um melhor atendimento que seja.
E pronto já tá. Bem fácil e rápido, só não dá milhões. Só se forem de saudades.
Coberta por um cristal de betão onde o sol domingueiro não penetra anseio por uma fresta que guie a luz.
Mesmo que tenha que semicerrar os olhos hoje não me importo, mesmo que os óculos escuros não sejam suficientes.
Mesmo com o nariz franzido, ainda combalido da virose, dou por mim a sorrir porque me apetece.
No meio de um arrepio penso nas possíveis histórias de quem passa. Talvez influenciada por um conto que vinha a ler no metro, local pouco propício à leitura dada a nova geração de telemóveis com música altifalante e adolescentes que pensam que gritando fazem com que o mundo os oiça, mundo que gira à sua volta.
Sou confrontada com a boa educação e o sorriso torna-se maior. Mantém-se quando a má aparece sem avisar. Tal como perguntas sempre sobre o mesmo, com diferentes sotaques, ritmos, línguas, tal como pedidos invulgares. Outros, envergonhados, entram a medo por entre um frio espaço onde esperam que contribua para melhorar ou definir o futuro. Por entre os desconhecidos surge um rosto familiar que me questiona sobre o meu futuro. Vagamente, porque não o conheço, retribuo a incerteza, sem previsões ou projectos.
A formiguinha no estômago inquieta-se como o pensamento no jardim e no sol. A pausa feita num curto tempo, é mesmo assim, curativa.
Oiço o bebé do andar de baixo a chamar pela mãe. Passa a choro e a grito que se confunde com os gritos da mãe a tentar calá-lo. Passa a chama-la de forma carinhosa para ver se a convence. Ela não vai em cantigas mas não demora muito para que volte.
A vizinha de cima já calçou os saltos e deve estar quase a sair. O namorado ou marido toca a campainha vindo de passear o cão que ainda agora uiva sem se cansar. As cordas vocais dos mais pequenos são bastante potentes.
Olho o tecto sem estrelas, recordo que o meu “verdadeiro” quarto tem estrelas. Este foi o meu quarto mas já não o é. Dentro em breve terei outro ainda. O que vale é que não sou esquisita com camas.
Vêm-me à cabeça imensos devaneios. Terei espaço para tudo o que quero levar nas malas sem pagar excesso? Tenho a certeza que me vou esquecer de qualquer coisa que me vai fazer falta. Hoje tenho que voltar à faculdade e amanhã também, provavelmente, e agora sim, o último vislumbre daqueles vidros por muito tempo. Amanhã também começo uma manobra de diversão para me distrair da monotonia. Logo depois devo partir definitivamente. Ainda não marquei nada por não querer pensar nisso, não querendo antecipar. Penso demasiado em coisas que não vale a pena reflectir.
Já farta de pensamentos profundos matutinos levanto-me, sorrio, cheia de energia. Lá fora chuvisca mas who cares? É um óptimo dia à mesma.
Não tenho sentido o apoio que precisava de ouvir do meu pai.
Ele sempre foi uma pessoa que sempre admirei. As suas palavras sempre foram um ensinamento.
Adoro discutir com ele, discordamos imenso mas respeitamo-nos. Somos ambos teimosos e muitas vezes acabamos com “tá bem, fica com a tua que eu fico com a minha” mas falarmos estimula-me.
Nestes tempos de incerteza ele mostrou sempre uma distância que me estava a fazer confusão. Como se soubesse que as coisas vão correr bem, de alguma indiferença.
E hoje, sem saber, iluminou-me. Disse-me que apesar de ser uma situação aparentemente nova na realidade não o era. Que já tinha passado por algo semelhante e com tranquilidade. Tinha-me esquecido disso. Afinal de contas não deve ser tão diferente do que me esperava e como sempre estou a fazer uma tempestade num copo de água quando, se calhar (espero mesmo que sim, fingers crossed não vá o diabo tecê-las), vai correr tudo bem.
Cabeça erguida e bora lá qualquer coisinha que estou pronta para novas aventuras.
Estou sentada numa praia, areia escura. Uma praia deserta, pequena, onde a distância entre o mar e o muro é bem pequena.
Está frio mas um sol não muito forte, agradável. Sinto a areia gelada nos meus jeans mas não me incomoda. Tenho uma t-shirt branca e um casaco de malha grossa entre o rosa e o cinza, com as mangas ligeiramente grandes. Desfaço as dobras e cerro os punhos nelas. Estou descalça e não visualizo onde tenho os sapatos nem as chaves do carro.
Oiço as ondas rebentarem, ligeiramente, calmamente. Gosto do murmúrio.
Puxo as mangas para cima. Tenho preguiça de as dobrar. Sei que se o fizer distraio-me pela perfeição que quero que adquiram.
Passo as mãos pelo cabelo, junto ao pescoço. Sinto-o suavemente e aperto-o levemente semicerrando os olhos. Agarro um punhado de areia. A areia passa-me entre os dedos. É fina, tão diferentemente refinada, onde se podem adivinhar tantas histórias. Gosto da sensação e repito vezes sem conta.
Esvazio os pensamentos, respiro fundo, olho para o infinito, limpo a alma.
Sem saber as horas, sem motivo, levanto-me. Agarro as chaves do carro e os sapatos que apareceram sem dar conta. Arrasto os pés na areia e lembro-me de uma citação de um filme sobre a areia ser o melhor exfoliante que existe. Não me importo mas a sensação é óptima e repito. Não experimento a água.
Uns passos adiante consigo saber a minha expressão facial e apesar de não estar a sorrir estou feliz.
Não foi um sonho. Foram pensamentos, tão fortemente descritos pela minha cabeça que podia ter sido um sonho.
Apercebo-me que podia sair agora e ir até à praia mas que não sei onde fica a praia mais próxima. Após seis anos de ter chegado a esta cidade não sei bem qual a praia mais próxima. Nunca me aconteceu. Até não gosto de praia mas o mar faz-me falta, só para o olhar. Provavelmente mesmo que soubesse não iria na mesma dado que é domingo, estar sol, o primeiro domingo solarengo depois do Inverno e incentive toda a gente a sair. A minha praia estava deserta, sem miúdos a correr ou a gritar, sem namorados aos beijinhos, sem cães a passear.
Hoje começa a Primavera e talvez precise de me lembrar que algo vai mudar, tem que mudar.
Não podemos dizer o momento preciso em que nasce uma amizade. Tal como ao encher uma vasilha gota a gota há finalmente uma gota que a faz transbordar, assim também numa série de gestos de amabilidade há finalmente um que faz transbordar o coração.
Entregar um comprovativo no sítio T.. Parece fácil mas não é. Será porque tem que ir por carta? Frio. Os CTT têm sido porreiros comigo e por agora não tenho queixas.
O comprovativo tem que ser passado pelo sítio S. que tem que ter a autorização do sitio R. e F. e quem tem que o redigir não parece saber bem como se faz.
Confuso? Esperem mais um bocadinho.
Ligo para o sito T. e dizem-me que se eu mandar uma carta a explicar que o comprovativo vai demorar e explicar tudo direitinho eles acreditam na minha palavra, dão seguimento ao processo mesmo sem o “oficial”. Porreiro, penso eu.
Escrevo uma cartinha toda bonitinha e profissional, na dúvida dou a ler a várias pessoas para ver se está perceptível o suficiente. Todos me dizem que se compreende perfeitamente, claro como água.
Recebo um telefonema hoje, de outra pessoa do sítio T. que não parecia estar muito ao corrente de como se tudo se está a processar e afinal a carta está sujeita a interpretações e não diz datas.
A muito custo lá expliquei à senhora que as datas só quando tiver o comprovativo oficial que ainda pode demorar. Diz-me que mande outra carta a dizer as datas e depois eles vêem.
Amanhã tenho que ir confirmar as datas todas ao sítio S. a rezar que não tenha que pedir autorizações para mas dizer não vá o diabo tecê-las e ter-me enganado num dia. Isso e os papéis oficiais virem com a mesma data e não me contradizerem.
Como se explica a um sítio que não parece funcionar muito bem que se está dependente de outro que não funciona melhor?
Outra confusão foi as moradas. E só mudei de casa uma vez. E explicar à senhora para mandar as coisas para casa dos meus pais porque assim não vai parar a outro sítio? Difícil. Porque supostamente eu é que tenho estar a receber as coisas e não os meus pais. E explicar que vou para casa dos meus pais daqui a pouco tempo e vou estar onde lhe estou a pedir para enviar as cartas? Complicado porque enquanto não vou eles podem precisar de me contactar. Falo numa coisa com que estou na mão, o telemóvel. Faz-se um clique e concorda comigo. Ufa!
Fui apanhada no meio destas papeladas todas e no fim ainda tenho que devolver dinheiro. Explico à senhora que tudo bem, se não era suposto recebê-lo devolvo. Parece que não me ouve porque continua uma explicação que já não faz sentido.
Devo falar chinês. Ou então falamos todos línguas diferentes.
É engraçado como cada coisa acontece na altura em que mais precisamos dela. As mínimas coisas revelam-se num momento em que precisamos de reposta e tudo começa a fazer sentido.
Também há coisas que não as podemos esquecer nunca. Mesmo que queiramos passar por elas sem as ver elas não deixam de lá estar. E são estas coisas que mais valorizamos, que mais nos faz crescer.
É engraçado como um simples filme, no dia certo, com a disposição de não muita aceitação nos faz pensar. Um filme que, mesmo contrafeita, mesmo quando todos dizem que é fantástico, mesmo quando já estou convencida que não irei gostar, inexplicavelmente agarro e vejo num suspiro. Não querendo que acabe. Porque estou a absorver cada paisagem, cada palavra, cada gesto, cada lágrima, cada olhar, cada sorriso.
E na altura certa ele revela-me coisas que ando à procura. Mensagens perdidas na poeira, no tornado de emoções.
E assim foi com o Austrália*. Ainda a quente reconheço que compreendi muitas coisas, que finalmente outras fizeram um bocadinho de mais sentido.
Porque sem o amor, em todos os seus intermináveis sentidos, não somos nada. Porque sem paixão não vivemos. Porque, para onde quer que vamos, continuamos a ser aqueles que escolhemos ser. Porque escolhemos ser quem somos. E os sonhos podem definir-nos.
Somewhere over the rainbow Skies are blue, And the dreams that you dare to dream Really do come true.
A propósito disto enviei um mail para a empresa para saber se fazem distribuição pelo país ou se aceitavam encomendas através do site.
Hoje ligaram-me. Leram bem, não responderam ao mail, ligaram. E foram de uma extrema simpatia. Preços não me quiseram dizer mas fiquei a saber que estão a expandir-se e vão-me informando de novas lojas, quem sabe mais perto de onde estarei.
É bom saber que as empresas cada vez mais apostam num serviço personalizado e dirigido ao cliente. Por acaso hoje também fiz umas comprinhas na Parfois (uma malinha lá no meio) e as meninas foram super educadas e o mais importante, sorridentes. Mau foi as senhoras que estavam à minha frente na fila para pagar que contaram a sua vidinha toda à empregada. E quem estava atrás (eu e a fila que se foi formando) lixou-se porque tivemos que ouvir tudinho até ao fim.
Como é possível ter-me escapado a época das galinhas e dos coelhos?
E as maravilhas de chocolate? Afinal parece que o esforço está a valer a pena.
Os meus padrinhos costumam sempre comprar um miminho que envolva ninhos e ovinhos. Adoro. Este ano não vou estar com eles mas já sei que quando lá for vai estar à minha espera. Sem os ovos que entretanto o meu pai come-os. A filha tem mesmo a quem sair.
Só aceitamos uma verdade quando primeiro a negámos. Não devemos fugir do nosso próprio destino. A mão de Deus é infinitamente generosa, apesar do Seu rigor.
Paulo Coelho in “O Alquimista”
Já neguei a minha verdade mas já a estou a aceitar.
Estou à espera do meu destino mas hoje já dei o primeiro passo.
Tenho uma amiga que namora com um gémeo idêntico. Os manos são iguaizinhos, até nos óculos.
Confidenciava-me que não acha muita piada e que gostaria muito mais se o namorado não tivesse um irmão idêntico. Claro que ela os sabe distinguir mas mesmo assim há situações que a deixa muito desconfortável. Não quis desenvolver e eu respeitei porque pareceu ser um assunto delicado.
Não serão as pessoas as causadoras deste incómodo? Pelas perguntas e comentários que fazem mesmo que seja para “fazer conversa”. Não estará implementado na cabeça das pessoas que os gémeos não têm muita individualidade? Nunca convivi de perto com nenhum gémeo e a ideia que tenho é que toda a gente pergunta se eles fazem e pensam de forma semelhante. São pessoas que têm uma relação muito especial mas são assim tão análogas?
A ligação que começa na barriga da mãe parece ser o ponto de encontro mais precoce que com as outras pessoas. O facto de conviverem na mesma casa, com as mesmas pessoas, com a mesma educação também pode contribuir para o vínculo forte.
Mas há coisas que não nunca poderão ser idênticas mesmo em pessoas aparentemente iguais.
Debaixo de um sol óptimo saltitamos de loja em loja.
Experimentamos, rimos. Não compramos mais porque estamos cientes do PEC.
Escolhemos restaurantes e o almoço prolongou-se numa conversa animada que nos embalava entre o passado e o futuro.
Mais compras e boas notícias e chego a casa com sacos na mão e penso como foi bom. (E nas coisas que ficaram a chamar por mim que quero esquecer.)
Logo à noite volto à faculdade. Vamos ver se os reencontros serão igualmente agradáveis e não fingidos. Vamos ver se aquele meu professor favorito, razão da minha ida, vai estar de bata e com as mãos nos bolsos se bem que qualquer coisinha lhe fica a matar.
Daquele que custa avançar, que a cada passo a alma gela.
Daquele que dá medo prosseguir o caminho.
Onde olhamos para cima e não vemos aquilo que queríamos porque não conseguimos ver nada.
Onde parece que estou a viver num estranho sonho, num cenário e tempo desfasado. No entanto, apesar de não nos situarmos, sabemos que inevitavelmente vai acontecer alguma coisa. O levantamento deste nevoeiro ou a queda.
Agarra-nos desde o primeiro segundo até ao último.
Sustemos a respiração, fechamos o punho, cerramos os dentes, saltámos, torcemos pelos “bons” e queremos esganar o “mau” embora o sir Anthony nos faça pensar duas vezes.
O final é incerto até ao último momento.
Actores fantásticos. Cada vez adoro mais o senhor Anthony Hopkins e quando faz de mau então é soberbo. O Ryan Goslingtambém esteve à altura. As mulheres, lindas.
De uma inteligência memorável.
Sem mais palavras.
(A SIC estava de parabéns por ter escolhido um filme como este para domingo à tarde mas o programa da Bárbara Guimarães é tão mau que afastou os elogios. Nem merece comentários de quem não aguentou 5 segundos).
Sou uma gulosa tão grande que se houvesse prémio eu ganhava (e tal como a querida Sandra ia recebê-lo). Nestas últimas semanas acho que como mais doces do que propriamente comida a sério. Mas desde que tomei consciência ando a reduzir porque parar assim de um momento para o outro dá mau resultado. Difícil deixar de fumar? E largar o chocolate?
Para melhorar ainda mais as coisas não é que estas “vizinhas da blogosfera” tiveram uma ideia genial? Principalmente para os portugueses. Importar os lindos cupcakes directamente de NY (onde a Carrie do Sexo e a Cidade os lambe graciosamente ou até a Marie Antoinette) mas fazê-los à lá mano? Sem conservantes, corantes artificiais e E-331 que só fazem mal à saúde. Para além disso ainda são elas que os entregam na sua casinha nas lindas caixinhas personalizadas. Obrigada meninas!
Anda uma pessoa a tentar segurar-se e depois surgem destas coisas BOAS.