domingo, 21 de março de 2010

Cenários



Estou sentada numa praia, areia escura. Uma praia deserta, pequena, onde a distância entre o mar e o muro é bem pequena.
Está frio mas um sol não muito forte, agradável. Sinto a areia gelada nos meus jeans mas não me incomoda. Tenho uma t-shirt branca e um casaco de malha grossa entre o rosa e o cinza, com as mangas ligeiramente grandes. Desfaço as dobras e cerro os punhos nelas. Estou descalça e não visualizo onde tenho os sapatos nem as chaves do carro.
Oiço as ondas rebentarem, ligeiramente, calmamente. Gosto do murmúrio.
Puxo as mangas para cima. Tenho preguiça de as dobrar. Sei que se o fizer distraio-me pela perfeição que quero que adquiram.
Passo as mãos pelo cabelo, junto ao pescoço. Sinto-o suavemente e aperto-o levemente semicerrando os olhos. Agarro um punhado de areia. A areia passa-me entre os dedos. É fina, tão diferentemente refinada, onde se podem adivinhar tantas histórias. Gosto da sensação e repito vezes sem conta.
Esvazio os pensamentos, respiro fundo, olho para o infinito, limpo a alma.
Sem saber as horas, sem motivo, levanto-me. Agarro as chaves do carro e os sapatos que apareceram sem dar conta. Arrasto os pés na areia e lembro-me de uma citação de um filme sobre a areia ser o melhor exfoliante que existe. Não me importo mas a sensação é óptima e repito. Não experimento a água.
Uns passos adiante consigo saber a minha expressão facial e apesar de não estar a sorrir estou feliz.
Não foi um sonho. Foram pensamentos, tão fortemente descritos pela minha cabeça que podia ter sido um sonho.
Apercebo-me que podia sair agora e ir até à praia mas que não sei onde fica a praia mais próxima. Após seis anos de ter chegado a esta cidade não sei bem qual a praia mais próxima. Nunca me aconteceu. Até não gosto de praia mas o mar faz-me falta, só para o olhar. Provavelmente mesmo que soubesse não iria na mesma dado que é domingo, estar sol, o primeiro domingo solarengo depois do Inverno e incentive toda a gente a sair. A minha praia estava deserta, sem miúdos a correr ou a gritar, sem namorados aos beijinhos, sem cães a passear.
Hoje começa a Primavera e talvez precise de me lembrar que algo vai mudar, tem que mudar.

3 comentários:

  1. Aparentemente, não é preciso ser uma jornada real para que levar a minha aprovação; basta ter sido (d)escrita por ti.

    Esplendoroso!

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  2. Também eu. Quando reparei que dei uma gralha...

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